Presidente da Abrapós fala sobre desafios na pós-colheita de grãos
Durante três dias, aproximadamente 400 pessoas participaram do I Simpósio de Pós-Colheita de Grãos de Mato Grosso do Sul, em Dourados. O tema foi “Gestão na Pós Colheita de Grãos”, com palestras realizadas por renomados especialistas na área.
O Simpósio foi uma promoção da Associação Brasileira de Pós-Colheita de Grãos (Abrapós); com realização da Cooperativa LAR, co-promoção da Copasul, Cotriguaçu, C.Vale, Copagril, Coopasol, Copacentro, Fazenda Campo Bom, Embrapa, e também contou com o apoio da Conab, OCB-MS, UEMS, UFMS e UFGD.
Entre as autoridades presentes na abertura do evento, estavam o chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Fernando Lamas, e o chefe adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento, Rômulo Scorza.
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A expectativa é que o II Simpósio seja promovido de dois em dois anos e que, em 2015, a realização seja da Copasul e da Embrapa.
Em entrevista para a equipe da Embrapa Agropecuária Oeste, Unidade de Pesquisa da Embrapa em Dourados, MS, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o presidente da Abrapós e pesquisador da Embrapa Soja, Irineu Lorini, faz um panorama sobre o evento e os desafios do setor.
• Por que a Abrapós decidiu fazer esse evento agora aqui em Mato Grosso do Sul?
Lorini - A Abrapós tem uma estrutura nacional e, nos estados de maior produção de grãos, já começou a trabalhar com eventos para fazer parcerias locais e levar conhecimentos e resultados de pesquisa e inovação em equipamentos, produtos e serviços. Já tivemos experiência e sucesso em outros estados. Há cerca de três anos já existia a intenção de trazer o evento para o Estado. Levamos esse tempo para organizar o primeiro simpósio para que as instituições e cooperativas de grãos levantassem juntamente com a Abrapós as reais necessidades da região.
• No Simpósio, foram debatidos temas como gestão na cadeia produtiva e agregação de valor na agricultura. Qual o maior gargalo tecnológico nessa área?
Lorini - Sem dúvida, a tecnologia na pós-colheita de grãos. Não temos muita inovação nessa área: de silos e armazéns, se considerarmos secadores, máquinas e equipamentos; e de tecnologias como dessecagem. Ainda estamos com uma defasagem muito grande. Se fizermos uma comparação, o campo avançou muito nas últimas décadas, enquanto a pós-colheita de grãos não acompanhou o mesmo ritmo. Há um deficiência de inovação na pós-colheita de grãos para que possa fazer frente ao que o campo está produzindo. São necessários programas tecnológicos e formação de mão de obra específica - há um gargalo enorme nessa área. Sem contar a deficiência na estrutura armazenadora do país, que leva aos principais problemas que temos hoje.
• Durante o evento, quais foram as soluções apontadas?
Lorini - Todas as soluções no setor de pós-colheita precisam de um alto investimento, porque silos e unidades armazenadoras têm um custo bastante alto. Há necessidade de muito investimento nessa área. Tivemos presente no Simpósio as indústrias que produzem silos e armazéns, máquinas, áreas tecnológicas e eletrônicas colocadas à disposição do público em 26 estandes expositores. Mas tudo isso demanda investimento, que é alto, precisando realmente de um planejamento de governo para fomentar o setor. Parece que o governo está sinalizando com uma linha de crédito específica.
• Nessa última safra, foi nítida a necessidade do Brasil melhorar a infraestrutura e a logística de escoamento de grãos. Como o senhor analisa essa questão?
Lorini - Tivemos uma produção nessa última safra de 184 milhões de toneladas de grãos. E temos uma capacidade estática - de silos e armazéns que temos registrados no país - em torno de 120 milhões a granel. Esses números mostram que temos uma defasagem de cerca de 64 milhões de toneladas de grãos. Esse é nosso principal problema atualmente, porque a capacidade de armazenamento de grãos no Brasil está muito abaixo do que o campo tem produzido. E surgem outros decorrentes desse. O setor tem vontade de investir para aumentar a capacidade de armazenamento na zona de produção. Com isso, regularíamos a logística, diminuiríamos custo com frete que custa mais da metade do valor em período de safra. Mas precisamos de linhas de créditos com juros baixos, com prazos de carência e de pagamento mais longos para o setor poder investir.
• Na pós-colheita dos grãos, ocorrem perdas durante o escoamento. Como diminuir essas perdas?
Lorini - Se tivéssemos um planejamento melhor, reduziríamos bastante as perdas. Temos perdas que acontecem no momento da colheita por problemas na regulagem de máquina. Hoje temos máquinas muito eficientes, rápidas, mas dependem de uma boa regulagem e bom operador. Por isso a capacitação é fundamental no setor. Outro momento de perdas de grãos é no transporte curto da propriedade para a primeira armazenagem. E, mais uma vez, a necessidade de treinamento de pessoas que vão beneficiar e cuidar dos grãos durante os meses que ficarão armazenados. é necessário melhorar a qualidade da estrutura de armazenagem. Durante o transporte longo, que sai da central armazenadora para os portos ou para as indústrias consumirem diretamente, também há uma perda significativa pela necessidade de chegar rápido ao destino. Nesse caso, a diminuição das perdas depende muito das boas condições de nossas estradas.
• No evento, a legislação foi um tema recorrente nas palestras. O que é mais importante destacar?
Lorini - Atualmente, temos normas regulamentadores e portarias que estabelecem procedimentos para que sejam seguidos na armazenagem de grãos. Fundamentalmente, são normas que padronizam nossos produtos para dar mais competitividade ao grão brasileiro no mercado internacional. Por isso, no evento, foram apresentadas várias dessas normas. Uma delas, que está em discussão e afeta toda a cadeia de grãos e sementes do país, é a regulamentação de medidores de umidade de grãos. Hoje eles não são regulamentados, ainda não há um padrão e isso afeta muito a comercialização. O Inmetro [Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia> vai regulamentar uma norma, que foi apresentada no evento, com a construção do regulamento técnico para termos equipamentos padronizados e reconhecidos internacionalmente. Isso vai ajudar o Brasil a ter produtos mais competitivos no mercado.
Outro ponto abordado no evento foi a certificação das unidades armazenadoras. É um processo que está em andamento, e todos devem se adequar até 2017. Toda unidade armazenadora de grãos deve ser certificada. Essa regulamentação trará uma padronização da unidade armazenadora, com condições mínimas para guardar um produto e, com isso, o grão terá uma qualidade definida e poderá ser competitivo no mercado internacional.
Falamos do internacional, porque ele regula bastante, mas o nacional também é extremamente importante, e a indústria nacional exige esse padrão de qualidade e, às vezes, até mais que o de exportação. Portanto, a regulamentação existe para que o armazenador tenha competitividade e ofereça à população um alimento seguro e de qualidade, sem contaminantes.
• O tema de sua palestra foi sobre pragas de grãos armazenados e os métodos de controle. Qual o maior desafio nessa área?
Lorini - As pragas são os principais contaminantes da armazenagem de grãos, chegando, algumas vezes, à mesa do consumidor. Temos que utilizar métodos adequados para que os insetos não infestem o grão no momento da armazenagem em silos e armazéns. A própria Embrapa desenvolveu um programa "Inseto Tolerância Zero", em que garantimos a ausência de insetos durante o armazenamento e, conseuquentemente, na mesa do consumidor.
São três métodos importantes. Um deles já trabalhamos há alguns anos. Especificamente a Embrapa já desenvolve pesquisas há mais de 15 anos com esse produto, que é um pó inerte à base de algas marinhas: as algas diatomáceas. Ele não é químico, servindo, inclusive, para quem tem armazenamento de produção orgânica. É um produto proveniente de fósseis, muito rico na costa brasileira. É extraído, moído e misturado aos grãos. Ele tem a capacidade de dessecação dos insetos: misturamos com os grãos para eliminar qualquer inseto que tentar chegar no grão. Essa é uma das grandes opções na armazenagem. O segundo método são inseticidas químicos que, misturados aos grãos, promovem a proteção contra os insetos, mas esses produtos deixam algum resíduo químico no alimento final. O terceiro é um gás que não deixa resíduo algum no alimento. O silo/armazém é transformado numa câmara de gás, um produto à base de fosfina, que mata todas as pragas, inclusive os ovos dentro dos grãos no armazenamento. Esses são basicamente os três métodos. Mas é importante ressaltar que medidas de higiene da unidade armazenadora são fundamentais. Se não houver uma boa higiene nas instalações, no pátio e no entorno da unidade armazenadora, com certeza haverá problema de criação desses insetos e de outros contaminantes como fungos e microtoxinas nos silos e armazéns, que vão se desenvolver nos grãos armazenados e contaminar os alimentos.
• Qual sua avaliação sobre o 1º Simpósio de Pós-Colheita de Grãos de Mato Grosso do Sul?
Lorini - Começamos a planejar esse evento há três anos. Foi um sucesso total, com um número de participantes acima do que esperávamos - foi um público de cerca de 400 pessoas, nosso planejamento inicial era de 300 a 320 pessoas. A sensibilidade do público de Mato Grosso do Sul foi importante. Um público que veio para trocar e buscar conhecimento e experiências em um evento com o que há de melhor sobre pós-colheita de grãos. Tivemos a presença de empresas de equipamentos, serviços e produtos que vieram apresentar suas inovações para o mercado direto. E palestras técnicas ministrados por renomados professores, pesquisadores, especialistas na pós-colheita de grãos que vieram compartilhar suas experiências.
• Qual a expectativa para o 2º Simpósio?
Lorini - Os trabalhos já começam agora para o próximo evento. Nossa previsão é que o Simpósio seja realizado de dois em dois anos. Portanto, a segunda edição deverá ser, em 2015, em Mato Grosso do Sul. Nesse primeiro simpósio tivemos uma parceria significativa de cooperativas, de empresas ligadas ao setor e de universidades. Neste ano, foi a cooperativa Lar quem realizou este evento, e a nossa previsão é que o evento, em 2015, seja realizado pela Copasul, possivelmente com parceria da Embrapa, além das outras instituições que estiveram no Simpósio de 2013.
Sílvia Zoche Borges, MTb-MG 08223JP, Jornalista Embrapa Agropecuária Oeste
Atualizada em 10/06/2013
Fonte: Embrapa Agropecuária Oeste